terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A insustentável leveza do crer







Diante da expansão das religiões evangélicas, de um certo refortalecimento da Igreja Católica e de um recrudescimento nos conflitos do islamismo com o judaísmo, torna-se inevitável a pergunta :
"qual dessas religiões detém a verdade ?"
Os fiéis de todas elas crêem nos seus escritos sagrados, nas suas tradições e orações. Esses valores, muitas vezes, se contradizem, e são os responsáveis pelos conflitos entre os seguidores dessas diversas crenças.
Quem estará com a verdade ?
Os católicos que seguem o Papa ? Os evangélicos que ouvem os seus pastores ? Os judeus que seguem o Torá ? Os islamitas, quando citam o Alcorão ? Ou os budistas, ou os taoístas, ou os xamanistas ? E não podemos esquecer-nos dos espiritualistas, que, não sendo seguidores de uma religião, têm suas crenças e filosofias, como os teosofistas e os espíritas.
A verdade que revela Deus estará somente numa dessas doutrinas, em todas ou em nenhuma delas ? Haverá uma consciência pura e soberana, dentre nós, que possa definir a verdade absoluta, condenando uma, algumas ou todas essas seitas religiosas ?
A Numerologia da Alma segue os ensinamentos do Mestre Pitágoras, e nos ensina que os devotos religiosos estão entre os que sofrem a forte influência do número 6, enquanto que os espiritualistas têm, no número 7, o governante das suas crenças.
E a verdade, com quem estaria ? A cultura interfere na crença ? Os mais ignorantes ou incultos seriam os seguidores de certas seitas, enquanto a elite cultural professaria uma fé mais filosófica ou simplesmente negaria todas as crenças ?
Pode-se ousar caminhar por esse terreno perigoso, mas logo vai-se perceber que, essas afirmativas não têm consistência e, portanto, não podem ser generalizadas.
Mesmo quando se percebe uma certa tendência para confirmar essas afirmações, surgem evidências contrárias , ainda que como exceções, que derrubam essas teses.
Quando recorremos à ciência quântica ou à psicologia, encontramos alguns subsídios que podem ajudar-nos a tirar conclusões. Ciência, psicologia e espiritualidade, quando atuam juntas, formam uma tríade razoavelmente convincente, para fornecer respostas consistentes, ainda que, jamais, definitivas.
Dizia Werner Heisenberg, um dos criadores da teoria quântica, que "não existe uma verdade única, científicamente comprovada, uma vez que o observador influi nas propriedades do objeto observado, interferindo no resultado final da pesquisa".
Um outro grande cientista e físico quântico, Geoffrey Chew, afirmava que "não existem teorias ou modelos fundamentais, que comprovem fatos absolutos ou que expressem uma verdade única, o que existe é uma sucessão de modelos e teorias, manifestando-se de forma mutuamente consistentes, porém limitados, ainda que próximos da verdade, mas jamais inteiramente comprovados".
O Dr. Robert Laing, famoso psicanalista, entendia que "não existe um ser esquizofrênico, mas um sistema esquizofrênico". Essa afirmativa parece estar em perfeita harmonia com a conceituação de Heisenberg, na sua visão quântica, de que "o mundo não é constituído por uma infinidade de formas distintas e separadas, mas por uma teia de intermináveis relações entre as diversas partes de um todo unificado".
E para não nos estendermos mais em sucessivas conceituações, lembremos, por fim, as palavras do místico chinês do século X a.C., Chuang Tzui, "eu e todas as coisas do Universo somos um só". Nada tão distante do que diria Mestre Jesus, o Cristo, 10 séculos mais tarde : "Deus não está aqui, nem ali, Ele está dentro de cada um de nós".
Depois dessas reflexões e análises, retornamos à questão primordial : "existem religiões certas e religiões erradas?" Ainda uma outra questão, bem mais ampla, pode ser levantada, a partir desse questionamento, que transcende a própria religiosidade : "existe uma verdade absoluta ou uma mentira concreta ?".
As nuvens cinzentas fazem do céu uma verdade cinzenta absoluta, ou dão a ele um aspecto relativamente cinzento ? E depois que as nuvens se vão, o azul que surge é a cor absoluta do céu, ou uma realidade passageira e relativa, até a chegada de novas nuvens cinzentas ?
A verdade, segundo a física, não pode ser cientificamente comprovada, devido à interferência exercida pelo observador. A resposta que obtivermos, será sempre relativa a quem a enunciou, de acordo com o seu nível de observação e conhecimento.
A Numerologia da Alma nos ensina que, existem pessoas que vieram ao mundo para liderar e outras para serem comandadas. Umas criam verdades, outras acreditam nelas. Umas são as governadas pelo número 1, a expressão do líder que tem a voz de comando. As outras são aquelas que são regidas pelo número 2, que expressa o seguidor, o discípulo ou aquele que vem depois.
O mundo seria, portanto, uma verdade criada por uns e aceita por muitos. Essa verdade, porém, não seria estática, mas, pelo contrário, essencialmente dinâmica. Em consequência, as verdades de hoje poderiam transformar-se nas mentiras de amanhã, fazendo com que as crenças variem de acordo com as verdades predominantes. Essas variações não transformam as antigas verdades em mentiras, mas somente em verdades ultrapassadas. Assim como, as mentiras de hoje podem vir a ser as grandes verdades e crenças das futuras religiões.
A conclusão a que chego é que não há conclusão alguma que não esteja restrita às minhas crenças, à minha ligação com o meu conceito de divindade, logo estritamente dependente do nível da minha consciência.
Jung concluiu que a humanidade carece de uma doutrina espiritual, sem a qual ela perderia o sentido da vida. A cultura oriental reverencia uma divindade presente em todas as coisas e pessoas, sem uma individualidade pessoal. A cultura ocidental tem preferido crer num Deus, ausente e distante, cujo caminho até ele, cada criatura terá de descobrir.
A verdadeira divindade, não importa uma ou outra versão, é o que é, ainda que seja vista sob óticas diferentes.
Crer é algo que está acima de comprovações ou lógicas. Só se comprova o que já se sabe, e lógico é tudo que nossa mente alcança. Cada um de nós está num estágio pessoal de evolução espiritual, logo, o melhor a fazer, é cada qual tratar de se conhecer melhor para se tornar um observador isento nas suas próprias pesquisas. Se isso será possível, a gente ainda não pode saber, e pelo que se sabe, através da física quântica, a resposta é negativa. Mas, assim como, um dia, a física quântica surpreendeu a ciência com o seu Princípio de Indeterminação, um de nós poderá surpreendê-la, com a descoberta de um Princípio de Determinação, que venha a definir a verdade absoluta e dar sustentabilidade às nossas crenças. Até lá, o melhor é se voltar para dentro de si mesmo, e tentar encontrar no fundo da alma, alguns indícios que nos ajudem a comungar com nossas verdades divinas e que nos revelem o verdadeiro caminho até Deus.



O que está dentro de nós também está fora. O que está fora de nós, também está dentro.
( Os Upanishades)





Não foi o homem que tramou a teia da vida, ele é um mero fio dessa trama.
A Terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à Terra.
(Cacique Seattle)